
Por João Francisco Aguiar Atribuo ao livro “O que é Punk, lançado pela editora Brasiliense, o mesmo peso das fitas cassetes que chegaram aos meus ouvidos, em meados dos anos 1990, a minha primeira formação relacionada aos movimentos de contracultura. Meus olhos devoraram com ansiedade juvenil cada uma das pequenas páginas desse livro enquanto meus ouvidos atentavam-se ao três acordes básicos de guitarras distorcidas, contrabaixos certeiros e baterias que pulsavam junto às batidas do coração. Música e literatura foram as melhores amigas durante minha adolescência solitária na pacata cidade de Serrana no interior de são Paulo e a 20 km de Ribeirão Preto. Aos 21 anos me considerava um beatnik. Chamado de prolixo pelos pseudo amigos. Dedicava-me a todas as leituras possíveis e experiências disponíveis nesse período de aprendizado prático e perigoso. Comecei a cursar Letras na ânsia de tornar-me escritor. Ainda não me atrevi a lançar um livro. Publiquei em blogs e fanzines. Um deles feito no período da faculdade, o Âncora que além de meus contos e poemas abriu espaço para que outros amigos também pudessem se expressar no papel Xerox.
Foi no período de faculdade que estreitei meus laços com Bivar. Motivado pelo professor Renato que além de editor do fanzine Tertúlia também o conhecia e gostava de literatura beat. Tinha lido alguns dos livros de Bivar e me encantei pelo “Verdes Vales do Fim do Mundo. Estava decidido nesse momento qual seria meu trabalho de conclusão do curso de Letras. Escreveria um monografia com base na leitura desse livro. O nome que dei ao trabalho foi “Verdes Vales do Fim do Mundo: um romance picaresco da pós-modernidade.

Decidido o tema da monografia, entrei em contato com Bivar e passamos a trocar cartas, emails e alguns telefonemas. Redson, guitarrista e vocalista do Cólera, foi o responsável pela aproximação. Bivar, além das informações necessárias para o término da monografia, me fornecia dicas de escrita que não cansasse o leitor. Também dividimos questionamentos e angústias nessas cartas e telefonemas. Vi em Bivar um amigo e senti muito a sua falta quando encerramos nosso contato.
Em 2002, participei do festival O fim do Mundo que encerrou a trilogia iniciada em 1982 com o Começo do Fim do mundo. Toquei bateria com a banda Ibis e com o PPA. Tive a oportunidade de conversar pessoalmente com Bivar, Confesso que foi um pouco estranho e não consegui me expressar como queria. Bivar me contou histórias. Falou-me sobre bandas e me mostrou as exposições que rolavam no evento. Mais ouvi do que falei nesse encontro que infelizmente foi o primeiro e último.
Talvez, pelo título que dei ao texto, o caro leitor esperasse ler mais sobre a importância dos livros e peças de Antonio Bivar. Preferi destacar outro legado , não só da escrita e influência para o movimento punk e toda a contracultura, mas sobretudo seu legado sobre minha história que pode não interessar a alguns. Bivar foi sobretudo um escritor de memórias e com memórias me despeço desse grande autor de livros e peças teatrais.Ele estará sempre presente. A cada linha que escrever. A cada batida na pele da caixa.No som de cada prato que se propaga em diversas direções assim como seu legado que nunca se dissipará por completo.Bivar foi o representante da literatura beat brasileira e tem seu lugar garantido na história. Saudades eternas.
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