justu

26 de mar de 20213 min

MEMÓRIAS ROCKABILLY

Aos seis anos de idade, em meados dos anos 1980, minha mãe me presenteou com uma pequena sonata vermelha, que funcionava ligada à tomada ou com pilhas, e colocou para rolar um disco do Elvis Presley. Uma coletânea lançada no Brasil em razão de sua morte. O álbum duplo reunia todos os seus grandes sucessos. Eu não imaginava, mas a minha primeira audição de “Blues Suedes Shoes” marcaria minha vida com desdobramentos que levariam, anos mais tarde, a querer ter uma banda de Rock and Roll.

Cresci idolatrando a figura de Elvis, tentei de todas as maneiras ter um belo topete, mas o meu cabelo não colaborava comigo. Acordava pela manhã, penteava todo os cabelo para trás e depois com os dedos puxava-o para a frente, colocava minha jaqueta jeans, levantava sua gola e ia para a escola me sentindo o rei do rock. Conforme meu cabelo secava, ele armava e o máximo que conseguia era ser a piada da sala. Chamava a atenção das meninas, mas da maneira errada. Eu estava na oitava série.
 

 
No colegial é que fui me inteirar ao certo sobre que era Rockabilly e saber que Elvis tinha muito a ver com essa história. Com a grana do meu primeiro emprego (Office Boy) passei a frequentar os sebos de Ribeirão Preto e conhecer outros representantes do estilo como Jerry Lee Lewis, Carl Perkins (que costumava dizer que o estilo era um “blues com uma batida country), Buddy Holly e Bill Halley (que antecedeu à Elvis no estilo).

Conversando com amigos mais velhos e buscando informações em revistas e fanzines que fiquei sabendo que o estilo já se delineava antes mesmo de Elvis ser coroado (em meados de 1950) e que a origem do rockabilly estava ligada a uma pequena gravadora na cidade de Memphis: a Yellow Sun, de Sam Phillips, que mantinha uma linha de produção composta apenas por artistas negros que tocavam blues, como as bandas Chess in Chicago e RPM on The Coast. E foi nessa gravadora que Elvis teve a oportunidade de gravar, em homenagem a sua mãe, a música That’s All Right, por U$3,89.
 

Mas o Rockabilly não era só música. Também passou a ser estilo de vida de muitos jovens que desejavam romper com os padrões e desafiar as normas familiares. Em meados dos anos 1990, já me interessava pelas letras de protesto do punk nacional e me decepcionei um pouco com as traduções de letras de Rockabilly que não tinham muito significado para mim, o que me atraia profundamente era o ritmo, o modo de cantar cheio de espasmos, repetições de sílabas e vibrações vocais, como em Baby Let’s Play House, de Elvis Presley.

Os primeiros passos do Rockabilly no Brasil foram nos anos 1980 com Eddy Teddy e a banda Coke Luxe, mas os primeiros sons que ouvi foram os da coletânea Devil Party que reuniu três bandas paulistas de Psychobilly (Kães Vadius, Kryptonitas e K-Billy's) e uma carioca (A Grande Trepada), cada uma com três músicas. O disco foi lançado em 1989, mas o adquiri em 1995, em um dos sebos da baixada de Ribeirão Preto. Assim me foi apresentado o Psychobilly, gostei muito do gênero porque misturava os sons que mais faziam a minha cabeça: rock and roll, punk rock e rockabilly.
 

A partir dessa coletânea passei a querer saber mais sobre as bandas que a compunham, peguei discos emprestados, pedi para que me gravassem fitas cassetes, na maioria os discos e fitas que adquiri eram com bandas de São Paulo e do ABC Paulista. Um amigo mais velho, que não vejo há anos, me contou que a capital era o berço do estilo e visto com muito respeito pelas bandas de outros estados.

Atualmente, ainda ouço e gosto muito de Rockabilly e Psychobilly. Hoje, as informações chegam muito mais rápido que antes. A internet está aí para ser usada para o bem ou para o mal. Há cenas importantíssimas organizando festivais, com bandas ativas e autênticas surgindo no Brasil todo. Curitiba, por exemplo, é apontada como a cidade mais importante do Brasil e uma das mais quentes do mundo para o a música psychobilly. Em Sampa, uma das bandas que mais se destaca hoje é a Asteróide Trio, formada em 2006 na cidade de Arujá, Grande São Paulo. Composto por Leandro Franco (Vocal e Bateria), Formiga (Guitarra) e Weasel (Baixo e Vocal). Com influências de Rockabilly, Psychobilly, Punkabilly, Surf Music, Quadrinhos Alternativos e Filmes B. O power trio, recentemente, gravou versões rockabilly de clássicos do Ratos de Porão com João Gordo no vocal. Vou deixar abaixo, links com sons e docs para quem quiser saber ou se aprofundar mais neste fantástico gênero musical, no Brasil e no mundo. Até a próxima!
 

 


 

João Francisco Aguiar – Fanzineiro de longa data e baterista do Duo Justu.
 

 

 

 

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